Galarza

Encontrei Galarza —
uma ilha ao norte,
onde não há pontes nem trilhas fáceis,
nenhum mapa seguro,
nenhum guia que saiba mais do que boatos.
Existem, sim, os que já lá estiveram,
mas suas palavras são névoa.

Andei léguas,
nadei por águas frias e profundas,
dividindo o silêncio líquido
com barcos pesqueiros e
peixes maiores do que qualquer lembrança que eu tinha do mar.

Encontrei Galarza —
pequena no tamanho,
imensa no mistério.
Sua beleza prende o olhar
e a razão, hipnotizada, se dissolve
nas águas límpidas que se tingem
do bruno avermelhado das pequenas casas
e do verde coroado dos coqueiros.

Encontrei Galarza —
onde a religião se traduz em harmonia,
igualdade e amor franciscano.
A paz governa a ilhota,
as leis nascem do costume,
e os papéis que regulam a vida
falam na língua de todos.
Ali, a dignidade não é palavra vazia —
desobedecê-la é ferir toda a comunidade.

Encontrei Galarza —
uma monarquia,
não à maneira dos reinos vaidosos,
mas coroada pela simplicidade:
Galarza é a alma de uma rainha sem joias,
o amor de Cristo,
a sabedoria de Gandhi,
a doçura de um inverno ameno,
a rosa sem espinhos,
o eco do céu sobre a terra,
o retiro dos bons cidadãos.

Adeus, Galarza.
O belo ainda é incompreensível
aos homens comuns.
Parti, mas voltarei.
E quando voltar,
que meus olhos, embriagados pela visão,
saibam ver com a razão,
e que meu coração
sinta, apenas,
a emoção intacta da tua essência.

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