Ausências

No eco do que se foi, a mente a tecer,

Um fio de lembrança, um vago parecer.

O ausente no presente, em seu etéreo altar,

Não fere como a chaga, não faz o ar faltar.

Na verdade, não se sente, é sombra a se esvair,

Um nome em lábios mudos, que o tempo há de polir.

Logo cedo se aprende o pouco que se vence,

A cada adeus trocado, a alma se convence.

Do perder, pois, se faz o ente, em casca a se formar,

Em cada laço rompido, um novo caminhar.

O que a memória não guarda, o que a mente esqueceu,

É a ausência absoluta, o que jamais se teve ou se perdeu.

Mas, no presente, estar ausente é inconsequente,

Um fantasma que dança, e o coração não mente.

Ele pulsa na falta, no gesto que ficou,

Na imagem insistente que a retina guardou.

Quando a lembrança entende que o outro já não vem,

Aí reside a dor, a busca por alguém.

“Por muito tempo achei que a ausência é falta”,

Disse o poeta, em sua sabedoria alta.

Mas a ausência é um estar em mim, um jeito de entender,

Que em tudo que se perde, há um novo florescer.

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