Vale?

Ouvia o grilo cricrilar,
o sapo coaxar,
o papagaio palrar,
pássaros pipilar —
uma sinfonia verde
que o vento regia.
Agora, o silêncio é o maestro,
o cântico se calou,
e o ar engoliu a melodia.
Não mais.
Vale?

Sentia a paz crescer nas margens,
a felicidade correr junto ao rio,
tudo transbordava —
sentimentos e água doce,
um ventre líquido que embalava a vida.
Agora, só o corpo triste de Sellow
repousa em águas rasas,
como se implorasse por profundidade.
Não mais.
Vale?

Via a paisagem,
mangueiras e ipês,
pinheiros, eucaliptos e ingás,
folhas conversando com a correnteza,
raiz e água, equilíbrio.
A corrente dizia baixinho
que a paz é mais fértil que a guerra.
Agora, vejo tudo lânguido,
sem lustro,
opaco, fosco,
com a sede estampada na terra.
Vale?

Viver é acreditar que tudo foi Alfeu,
mas aqui não há fuga para o mar.
Discordo de Drummond —
ela, ah,
não…
não pode ser tão amarga.

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